Radar Regulatório: Riscos, Impactos e Decisões da 45ª Reunião Técnica da COSAÚDE
- Alessandra Calisto Piloto

- 31 de out.
- 4 min de leitura
A 45ª Reunião Técnica da COSAÚDE trouxe discussões sobre novas tecnologias, riscos de judicialização e sustentabilidade financeira no Rol da ANS. Veja como isso impacta clínicas, hospitais e a gestão de compliance no setor de saúde suplementar.
A 45ª Reunião Técnica da Comissão de Atualização do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar (COSAÚDE) consolidou-se como um marco na agenda regulatória da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
A reunião debateu tecnologias de alto custo, metodologias de avaliação econômica e o desafio de equilibrar inovação, sustentabilidade financeira e compliance regulatório no setor de saúde suplementar.
Para clínicas, hospitais e operadoras, os temas discutidos são essenciais para compreender os próximos movimentos da ANS e antecipar ajustes estratégicos e contratuais que garantam a conformidade regulatória e a sustentabilidade dos serviços.
1. O Risco da Judicialização por Diretrizes Ambíguas (Inclisirana e o Caso UAT 171)
Um dos debates mais polêmicos da reunião envolveu a inclusão da inclisirana para o tratamento da hipercolesterolemia primária.
O caso ilustra um risco crescente de judicialização na saúde suplementar, quando há divergência entre a Diretriz de Utilização (DUT) da ANS, a bula aprovada pela Anvisa e as diretrizes clínicas.
Impacto Financeiro Potencial: As operadoras estimaram um impacto orçamentário de até R$ 3,2 bilhões em cinco anos, caso a tecnologia seja incorporada sem restrições precisas.
Risco de Conflito Regulatório: A DUT proposta pela ANS restringe o uso a pacientes com LDL acima de 100 mg/dL, enquanto a bula e as diretrizes médicas incluem pacientes intolerantes a estatinas e sem ponto de corte fixo.
Implicação Jurídica e de Compliance: Essa divergência cria um alto potencial de judicialização, com pedidos de cobertura para perfis de pacientes não previstos pela ANS. A área técnica estimou que a população elegível real poderia chegar a 110 mil pacientes por ano — dez vezes mais que a previsão inicial.
Ponto de atenção: clínicas e hospitais devem monitorar decisões de DUT que possam gerar pressões judiciais ou contratuais, especialmente em terapias de alto custo.
2. Desafios Metodológicos e Modelagem Econômica na Análise de Novas Tecnologias
A COSAÚDE reforçou a importância do rigor metodológico nas Avaliações Econômicas em Saúde (AES) — um tema central para o compliance técnico e regulatório. As discussões destacaram inconsistências em modelos de custo e eficácia apresentados pelos proponentes de novas tecnologias.
Tecnologia (UAT) | Falha Identificada | Risco atrelado |
Lebrikizumab (UAT 175) | Ausência de critérios de descontinuação na DUT, embora usados no modelo econômico. | Lacuna regulatória para medicamentos de alto custo, sem parâmetro claro para encerramento do uso. |
Momelotinib (UAT 176) | Uso de modelo de custo minimização sem comprovar equivalência terapêutica. | Substituição por tratamento potencialmente menos eficaz e menos seguro, violando boas práticas de avaliação. |
Alectinib (UAT 173) | Imaturidade dos dados de sobrevida global (OS); benefício baseado em sobrevida livre de doença (DFS). | Risco de incorporação precoce sem comprovação completa de benefício clínico e custo-efetividade. |
Esses pontos reforçam a necessidade de governança regulatória robusta, especialmente em hospitais e clínicas que participam de estudos ou operam protocolos baseados em novas tecnologias.
3. Compliance e Transparência nos Custos e Descontos Comerciais
A reunião expôs um problema antigo no setor: a assimetria na negociação de preços entre operadoras. Essa desigualdade afeta diretamente a equidade e o financeiro na saúde suplementar.
Descontos Concentrados: Grandes operadoras têm acesso a descontos mais agressivos, enquanto pequenas e médias operadoras não conseguem as mesmas condições comerciais.
Avanços Positivos: A GSK informou possuir um modelo linear de desconto, aplicado igualmente a todas as associadas da Abrange, o que foi elogiado como uma boa prática comercial.
Sugestão Regulatória: Foi proposta a criação de um grupo de trabalho da ANS para revisar e até desincorporar tecnologias obsoletas, visando um Rol mais enxuto e sustentável.
Para gestores de instituições de saúde: a transparência e a previsibilidade nos custos de insumos e medicamentos são componentes críticos na gestão de riscos financeiros e contratuais.
4. Gerenciamento do Risco da Judicialização — O Caso do Balão Intragástrico (UAT 168)
A discussão sobre o balão intragástrico para obesidade grau 1 e 2 revelou um cenário de alta judicialização e fragilidade regulatória.
Dados de Judicialização: Entre 2020 e 2025, foram identificados 141 processos judiciais, com 118 decisões favoráveis aos pacientes — um índice de 84%.
Implicação Regulatória: A ausência de cobertura obrigatória para esse perfil de paciente tem levado à pressão judicial contínua sobre clínicas e operadoras.
Risco para Prestadores: clínicas e hospitais devem revisar protocolos de atendimento e documentações clínicas para mitigar litígios e garantir rastreabilidade.
Conclusão: Compliance como Pilar da Sustentabilidade no Rol da ANS
A 45ª Reunião Técnica da COSAÚDE reafirma a necessidade de um olhar técnico e estratégico sobre o compliance regulatório na saúde suplementar. A judicialização crescente, os altos custos de incorporação de tecnologias e as lacunas nas Diretrizes de Utilização (DUT) reforçam a importância de monitoramento contínuo e atuação preventiva por parte das instituições de saúde.
Em um cenário de intensa atualização regulatória, compliance não é apenas obrigação — é uma ferramenta de sustentabilidade. Instituições que se antecipam às mudanças da ANS protegem sua previsibilidade financeira e fortalecem sua governança corporativa.
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