O Recurso de Glosa: a ferramenta financeira mais subestimada nas instituições de saúde credenciadas
- Alessandra Calisto Piloto
- 14 de out.
- 3 min de leitura
Em meio à rotina intensa de clínicas e hospitais, o recurso de glosa ainda é uma das ferramentas mais subestimadas e negligenciadas da gestão financeira.
Paradoxalmente, é também uma das maiores fontes de recuperação de receita no setor da saúde suplementar.
Enquanto muitas instituições focam apenas em evitar glosas, poucas estruturam processos eficazes para contestar e reverter valores retidos injustamente pelas operadoras. O resultado? Perdas financeiras que poderiam ser evitadas — e que, somadas ao longo dos meses, representam uma fatia significativa do faturamento.
O Impacto Real das Glosas na Receita Hospitalar
As glosas — suspensões totais ou parciais de pagamentos por parte das operadoras — são um dos principais desafios enfrentados pelos prestadores de serviços de saúde.
Segundo a ANAHP, em 2021 os valores glosados representaram 3,76% da receita bruta dos hospitais privados. Em muitos casos, essa porcentagem pode ultrapassar 5% quando o processo de faturamento e contestação não é bem estruturado.
Elas se dividem em três grandes grupos:
Glosas administrativas: erros de preenchimento, falta de documentos, divergências de dados — geralmente evitáveis e reversíveis.
Glosas técnicas: questionamentos clínicos sobre o procedimento realizado.
Glosas lineares: negativas automáticas ou sistêmicas, frequentemente sem justificativa clara.
Cada tipo exige uma abordagem específica — e o recurso é a chave para tratar cada caso com segurança jurídica e eficiência.
O Recurso de Glosa: Oportunidade de Recuperação de Receita
O recurso é o procedimento formal que permite à instituição contestar a glosa e solicitar a revisão do pagamento.
E aqui está o ponto: cerca de 80% das glosas administrativas são passíveis de reversão. Ou seja, há um enorme potencial de recuperação de valores que, por falta de estrutura ou priorização, acabam sendo deixados para trás.
Um processo de recurso eficiente pode transformar glosas indevidas em entradas financeiras concretas, reforçando o fluxo de caixa e garantindo previsibilidade de receita.
Por que o recurso de glosa é tão negligenciado?
Mesmo com todo esse potencial, muitos prestadores ainda deixam o recurso “para depois”. Isso acontece por fatores como:
Complexidade técnica e burocrática dos formulários e prazos.
Desinteresse por valores pequenos, que acabam se acumulando.
Falta de estrutura dedicada, especialmente em clínicas menores.
Desorganização documental, que impede uma contestação sólida.
Essa negligência gera perdas financeiras cumulativas e prejudica a sustentabilidade da operação, justamente o contrário do que um bom programa de Governança, Riscos e Compliance busca construir.
Como transformar o recurso em resultado
A boa notícia é que recuperar receita é possível — e depende de estratégia, organização e tecnologia. Veja as principais práticas que transformam o recurso em ferramenta de resultado:
Capacitação contínua
Treine as equipes de faturamento e recepção sobre as normas da ANS e regras de cada operadora. Profissionais bem preparados reduzem erros administrativos e fortalecem os recursos.
Documentação minuciosa
Mantenha todos os registros (prontuários, autorizações, guias e relatórios) organizados e de fácil acesso. Cada documento é um argumento a favor da reversão da glosa.
Uso de tecnologia e IA
Sistemas de gestão e inteligência artificial auxiliam na detecção de glosas automáticas, padronização de processos e controle de prazos, aumentando a eficiência do faturamento.
Compliance ativo e integrado
O setor de Compliance deve atuar lado a lado com o faturamento, garantindo conformidade contratual, acompanhamento de prazos e controle documental. A integração entre jurídico, faturamento e assistência é o que blinda a operação.
Conclusão
O recurso de glosa é muito mais do que um processo administrativo — é uma ferramenta financeira estratégica. Quando bem gerido, ele representa recuperação de receita, segurança jurídica e fortalecimento da governança das instituições de saúde.
As clínicas e hospitais que dominam esse processo reduzem perdas, blindam seu faturamento e ampliam sua sustentabilidade.
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